28.7.05
+ Em Memória de José Pedro Machado (1914-2005) +
Há cerca de dois meses, coloquei aqui um texto de louvor ao ilustre filólogo português, José Pedro Machado. Nele pugnava pela sua condecoração no 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
Apresentei para tal algumas razões, mais que suficientes, a meu ver, que evidenciavam o seu mérito intelectual, moral e cívico, verdadeiramente invulgares, em qualquer época considerada.
Infelizmente, a oportunidade não foi aproveitada pelas entidades competentes e agora já só poderá sê-lo a título póstumo.
José Pedro Machado faleceu subitamente, na passada 3ª feira, dia 26 de Julho, de manhã, quando se preparava para sair de casa, para a compra habitual do seu jornal diário.
Desapareceu um grande homem, de alta estatura moral, intelectual e cívica, numa era tão escassa de valores humanos, em Portugal e no Mundo. Fica a sua obra, vasta e valiosa, e, sobretudo, o seu subido exemplo de cidadão íntegro, estudioso das coisas pátrias, amigo da sua terra natal, do seu país, que destacadamente honrou, como um nobre patriota, útil servidor da Comunidade em que viveu.
À família enlutada, endereço as minhas sentidas condolências.
À sua grata memória, deixo o texto abaixo, que irei enviar também a alguns órgãos da Comunicação Social, na esperança de que um deles, pelo menos, seja capaz de lhe dar merecida divulgação, para conhecimento, sobretudo, das actuais jovens gerações, para que busquem no seu exemplo inspiração e ânimo para vencerem as descrenças e as dificuldades presentes, para que arranquem Portugal do pessimismo, da incompetência e da corrupção, autênticos monstros horrendos do nosso actual infortúnio colectivo, óbices a qualquer caminho de progresso.
AV_Lisboa, 28 de Julho de 2005
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Em Memória de José Pedro Machado
( N. em Faro a 08-11-1914 – F. em Lisboa a 26-07-2005 )
- Breve nota biográfica
José Pedro Machado nasceu no Algarve, na cidade de Faro, a 8 de Novembro de 1914. Veio ainda criança para Lisboa, acompanhando a deslocação do pai, militar da Marinha de Guerra Portuguesa. Aqui viveu a quase totalidade da sua existência, como filho adoptivo e dedicado da cidade, sem nunca esquecer, todavia, a sua amorosa província natal, à qual prodigalizou sobejas provas de carinho e devoção, de resto, profusamente correspondidas.
Habitou primeiro na zona de Alcântara - Santo Amaro, na Rua Bocage, actual Rua Amadeu de Sousa Cardoso, perto da Rua Luís de Camões, facto curioso, não despiciendo, como se verá adiante, quando se fizer referência às suas áreas predilectas de investigação filológica e literária.
Morou também na Lapa, na Rua S. Francisco de Borja, durante alguns anos, até se fixar mais tarde na encosta de uma das mais típicas e encantadoras colinas de Lisboa, junto à Graça, na Rua Leite de Vasconcelos, outro nome famoso e influente na sua vida profissional e académica.
Frequentou os Liceus Pedro Nunes, Passos Manuel e D. João de Castro, estabelecimentos de ensino de notáveis pergaminhos, na formação de gerações e gerações de portugueses, em que contactou com alguns excelentes Professores, que cedo lhe despertaram qualidades e vocações invulgares, proporcionando-lhe valiosa preparação para a entrada na Universidade.
De entre esses Mestres, deve salientar-se o nome do Professor Marques Braga, a quem JPM, ao longo da vida e em vários escritos seus, se há-de sempre referir com elevada estima e gratidão, pela benéfica influência que exerceu na sua futura vida profissional e académica.
Estudou depois na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou, em Filologia Românica, em 1938, com altas classificações, tendo logo revelado clara vocação de Filólogo, nas primeiras investigações aí desenvolvidas.
Em particular, essa vocação focalizou-se no estudo do Árabe, em que foi discípulo dilecto do insigne Mestre David Lopes, Professor que, na Universidade Portuguesa, se notabilizou como pioneiro e grande impulsionador dos estudos da Língua e Cultura Árabes. A tese de licenciatura de JPM – Comentários a Alguns Arabismos do Dicionário de Nascentes – incidiu, aliás, nesse tema, ainda hoje pouco cultivado em Portugal.
Destinava-se, como tudo indicava, a uma promissora carreira universitária, quando se iniciou como Assistente, na sua Faculdade de Letras, tendo chegado a estar nomeado, por parecer de dois dos mais ilustres Professores da Faculdade, David Lopes e Leite de Vasconcelos, para Leitor de Português, na Universidade de Argel, onde certamente aprofundaria – ainda mais – o seu gosto e o seu conhecimento da Língua e Cultura Árabes.Desafortunadamente, o desencadear da Segunda Guerra Mundial, nos primeiros dias de Setembro de 1939, acabaria por impossibilitar tão justificada nomeação.
Foi também naquela Faculdade que conheceu a que viria a ser sua mulher, a Professora Doutora Elza Paxeco, com ele co-autora da muito citada edição comentada do Cancioneiro da Biblioteca Nacional, antigo Colocci-Brancuti e, ela própria, pessoa de notável capacidade intelectual, tendo sido a primeira senhora doutorada em Letras pela Universidade de Lisboa (1938) e autora de diversos trabalhos de investigação que lhe granjearam igualmente merecida reputação.
Foi afastada da Universidade, em consequência de rivalidades, invejas e intrigas, conhecidas maleitas, mesquinhas mas deletérias, que costumam assolar os agitados bastidores universitários, comprovado mal de todos os tempos e de todas as Academias.
Algo de grave se terá então passado, para ter levado Pedro Machado, em solidariedade, a demitir-se das suas funções de Assistente e, em alternativa, a ter preferido um lugar mais modesto, mas mais seguro, de Professor Efectivo do Ensino Secundário, naqueles espartanos tempos do começo da Segunda Guerra Mundial.
Assim a Universidade Portuguesa se privou de uma alta e certa vocação de investigador, designadamente, nas áreas da Filologia, da Literatura e da História, áreas em que, não obstante, ao longo da sua dilatada vida, Pedro Machado muito trabalhou, em condições menos adequadas, é certo, mas sempre com bons resultados, tanto mais brilhantes, quanto mais precárias ou menos favoráveis as condições de trabalho se lhe apresentaram.
Logo que licenciado, começou José Pedro Machado a colaborar em revistas especializadas de Filologia, a convite de Mestres que lhe reconheciam a capacidade intelectual, a cuidada preparação e a integridade de carácter, condições difíceis de encontrar reunidas, em plano elevado, em qualquer comum mortal, em qualquer época.
Na década de 40, escreve e edita vários volumes dedicados ao estudo da Língua Portuguesa, mas é em 1952 que surge a sua primeira grande obra, de autêntico Filólogo, o Dicionário Etimológico da LP, hoje com cinco volumes, que tem conhecido várias reedições, confirmando o interesse do vasto público por tema pouco estudado entre nós. Basta assinalar que, desde essa data, embora não sendo um trabalho perfeitíssimo, como há quem aponte, ainda nenhum outro português ousou publicar livro idêntico, ao contrário do que tem sucedido com os tradicionais dicionários generalistas da Língua Portuguesa.
No Brasil, foram também raros os que se aventuraram a tal empreendimento, embora, neste domínio, se deva reconhecer o grande mérito do trabalho pioneiro de Antenor Nascentes, de que Pedro Machado largamente aproveitou, no convívio intelectual e pessoal que com ele manteve ao longo da vida.
Em complemento ao Dicionário Etimológico de José Pedro Machado, deve citar-se o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, em três volumes, obra importante, num campo em que, analogamente, não tem havido emulação entre nós.
Trata-se de um tipo de obras que exige longa e esmerada preparação, em várias disciplinas complementares do saber filológico, da Língua à História, à Literatura, à Geografia, à Antropologia, etc., a par de uma fina perspicácia intelectual, capaz de desenredar termos e conceitos, por regra, envoltos em polémicas ou disputas, em que se ganham ou destroem reputações.
Lexicógrafo de largo fôlego, José Pedro Machado elaborou ou coordenou, ao longo de décadas, muitos Dicionários afamados da Língua Portuguesa, desde o mui conceituado Morais, um dos primeiros dicionários da Língua Portuguesa, continuamente actualizado desde 1789, da autoria de um brasileiro, António de Morais Silva, bacharel em Direito, pela Universidade de Coimbra, até ao Grande Dicionário da Sociedade da Língua Portuguesa, numa prova cabal da sua competência, sempre exercida com inquebrantável dedicação, arrostando com carências, dificuldades e até incompreensões diversas.
Outro notável trabalho seu veio a ser a tradução directa do Árabe, para a nossa Língua, do livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão, cujas profusas e minuciosas notas, pejadas de esclarecimentos, no domínio da História, da Língua, da Geografia e até da Religião, enriqueceram extraordinariamente a obra, inserindo-a no seu contexto cultural e histórico, para bem se compreenderem o seu significado e a sua importância.
Nestas obras mais significativas da sua larga produção intelectual está bem patente toda a sua vasta e sólida formação, todo o seu ânimo empreendedor, que o levaram a meter ombros a trabalhos espinhosos, exigentes, arrojados e, invariavelmente, de escassa publicidade e diminuto prémio material.
Mencione-se também a sua continuada ligação à Livraria Portugal, por via da sua íntima amizade com um dos antigos proprietários e fundadores, Henrique Pinto, já falecido, igualmente espírito empreendedor, com apurado sentido cultural, no exercício da sua nobre função de livreiro, comprovado até na forma como soube atrair e conservar a cooperação de Pedro Machado no prestimoso Boletim dos Serviços Bibliográficos da Livraria, a que ele galhardamente emprestou toda a pujança do seu saber, numa escrita sóbria, mas rigorosa, elegante, na sua aparente simplicidade, cumprida com escrupulosa regularidade.
Aqui, mensalmente, desde a década de 50 do século passado, Pedro Machado publicava artigos de oportuna intervenção cultural, sobre múltiplos temas da Cultura Portuguesa, sobretudo, que, depois, a Livraria, fundada em 1941, reunia e editava em livro, com o título de «Factos, Pessoas e Livros», ao fim de cada década, nos aniversários da Empresa.
Estão assim publicados 4 volumes, que cobrem aquela colaboração até ao fim de 1990, tendo o 4º volume saído em 1991, na comemoração do cinquentenário da Livraria, aguardando-se o seu 5º e último volume, que se encontra preparado para ser editado, com os artigos elaborados desde 1991 até ao presente.
Hábito muito antigo de Pedro Machado foi também o de escrever na imprensa nacional e regional, nomeadamente no Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital, no Jornal de Sintra, no Correio do Sul, n‘O Algarve, no Jornal do Fundão, no Diário de Notícias, onde, aliás, manteve, durante anos sucessivos, na década de 90, uma coluna dedicada a questões da Língua Portuguesa, verdadeiro oásis no deserto de esquecimento a que este tema tem sido votado nos principais órgãos de Comunicação Social, nos últimos decénios.
Desavisadamente, deixou o Diário de Notícias extinguir aquele potente farol cultural, que derramava a luz do seu imenso saber, numa tribuna sempre muito procurada, com um enorme volume de correspondência, prova irrefutável do interesse que a sua coluna despertava nos muitos leitores do jornal.
Colaborou também com o eminente filólogo, Padre Raul Machado, na preparação das suas populares Charlas Linguísticas, transmitidas pela Radio-Televisão Portuguesa (1960), que a Sociedade da Língua Portuguesa posteriormente reuniu e editou em livro com as lições aí expendidas.
Analogamente, escreveu em revistas nacionais e estrangeiras, como o Bulletin Hispanique ( Bordéus ), a Revista Filológica do Rio de Janeiro, o Boletim de Filologia de Lisboa, a Revista de Portugal, a revista Ocidente, o Boletim Mensal da Sociedade da Língua Portuguesa, a revista Língua e Cultura da mesma Sociedade, etc.
Sem pretender carregar esta breve nota biográfica, citarei ainda a participação de José Pedro Machado em obras colectivas de forte impacte cultural, como a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, o Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, a sua colaboração com a Comissão Científica da Academia das Ciências de Lisboa para o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro de 1945.
Citaremos igualmente a enorme simpatia e o elevado apreço com que os estudiosos brasileiros da Língua Portuguesa sempre se referiam a José Pedro Machado, como pessoalmente pôde verificar o Professor Joaquim Veríssimo Serrão, Presidente da Academia Portuguesa da História, quando com ele viajou, em Agosto de 1959, até Salvador da Baía, no Brasil, onde se realizou o IV Encontro Internacional de Estudos Luso-Brasileiros.
No volume recentemente editado por aquela Academia, por ocasião da homenagem que, em sessão especial, a 17 de Novembro de 2004, lhe prestaram, na passagem do seu 90º aniversário, foram reunidos diversos trabalhos em homenagem a José Pedro Machado. Num deles, em comovido e comovente texto, Veríssimo Serrão relata, com pormenor e genuína afeição, vários episódios do seu convívio com JPM, como igualmente atesta as numerosas provas de carinho que lhe foram prodigamente manifestadas pelos seus pares brasileiros.
Em texto do próprio José Pedro Machado, num livro intitulado «Ensaios Literários e Linguísticos», publicado em 1995, pela Editorial Notícias, ficou, aliás, bem assinalada, em particular, a grande amizade que o unia ao Mestre brasileiro, Antenor Nascentes, Professor ilustre, profundo conhecedor da Língua Portuguesa e autor também de um notável Dicionário Etimológico, no qual JPM se inspirou e de cujo estudo fecundo muito beneficiou para posteriormente elaborar o seu.
Na sessão especial referida, no final de 2004, a Academia Portuguesa da História decidiu elevar José Pedro Machado à categoria de Académico de Mérito daquela Instituição, após ter sido sucessivamente seu Sócio Correspondente e Académico de Número, distinguindo desta forma a sua prolífica e valiosa colaboração, nas diversas actividades em que estatutariamente participou.
Já antes, em 1999, esta prestigiosa Academia tinha proposto, ao então Ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, a atribuição de uma medalha de Mérito Cultural a JPM, que aquele favoravelmente despachou. Era José Pedro Machado também possuidor de uma Comenda da Ordem da Instrução Pública, outorgada em 1996.
Tendo sido membro de várias Instituições Culturais, como adiante se indicará em sucinto currículo que se agrega, possuia José Pedro Machado mais algumas distinções, mas ficou por prestar-lhe a mais significativa de todas, a da sua condecoração pública, no 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões, e das Comunidades, entidades a que ele tanto trabalho e saber dedicou ao longo da sua extensa e multi-facetada vida. Camões e Portugal são temas predilectos, constantemente honrados na produção literária de José Pedro Machado.
Na verdade, o seu nome, ao lado dos já consagrados nesta data, nestes últimos 31 anos de Liberdade e Democracia, ressalta como uma evidência da justiça que ficou por fazer-lhe em vida.
Cumpre reparar, ainda que a título póstumo, esta lamentável falta do Portugal democrático, para com quem sempre o serviu com elevação, competência e dignidade, no Espírito, como na Ética, num comportamento cívico a todos os títulos irrepreensível.
Quero acreditar que ainda seja possível corrigi-la.
Honremos, nessa imperiosa correcção, a digna memória de José Pedro Machado.
Um seu antigo aluno, amigo de sempre, profundamente grato do seu frutuoso magistério e do seu amável convívio.
AV_Lisboa, 28 de Julho de 2005
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Currículo e Bibliografia abreviados do Dr. José Pedro Machado
Currículo :
Licenciatura em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1938.
Curso de Ciências Pedagógicas, pela Universidade de Coimbra, em 1940.
Assistente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Professor Efectivo do Ensino Técnico Secundário, na Escola Industrial Afonso Domingues, mais tarde Escola Secundária Afonso Domingues.
Director em exercício da Escola Industrial Afonso Domingues.
Membro das seguintes Agremiações Culturais :
Academia Portuguesa da História,
Sociedade Euclides da Cunha ( Paraná )
Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo.
Academia Brasileira de Filologia.
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Academia Nacional de la Historia ( Venezuela ).
Real Academia de la Historia ( Espanha ).
Academia Real Sueca de Belas-Artes, História e Antiguidades.
Academia de Marinha ( Lisboa ).
Sócio de Honra da Sociedade da Língua Portuguesa
Bibliografia :
Alguns Vocábulos de Origem Arábica, 1939.
Contemplação de S. Bernardo Segundo as Sei9s Horas Canónicas do Dia ( Texto do séc. XV.
Comentários a Alguns Arabismos do Dicionário de Nascentes, 1940.
Curiosidades Filológicas, 1940.
Sintra Muçulmana, 1940
Évora Muçulmana, 1940
Gonçalves Viana, 1940.
O Português do Brasil, 1942
Elementos Hispânicos do Vocabulário Latino, 1943.
Descobrimentos Portugueses, colaboração na monumental edição do Dr. João Martins da Silva Marques, seu Professor na Universidade, 1944.
As Origens do Português, 1945.
Breve História da Linguística, 1945.
Origem da Língua Portuguesa de Duarte Nunes de Leão, 1945.
Bases da Nova Ortografia, 1946.
Cancioneiro de Évora, 1951
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 1952.
Os Estudos Arábicos em Portugal, 1954.
Gramática da Língua Portuguesa de João de Barros, 1957.
Influência Arábica no Vocabulário Português, 1958.
Dicionário do Estudante, 1960.
Os Mais Antigos Arabismos da Língua Portuguesa, 1961.
Notas de Toponímia Portuguesa, 1962
Notas Etimológicas, 1963.
Edição Comentada do Cancioneiro da Biblioteca Nacional, em parceria com Elza Paxeco, 1947-1964.
Nótulas de Sintaxe Portuguesa, 1965
Elementos Arábicos no Vocabulário Técnico dos « Colóquios» de Garcia d’Orta, 1963.
Topónimos Estrangeiros em Fernão Lopes, 1967
Acerca do Nome Árabe de Lisboa em colaboração com Elza Paxeco, 1968.
A Viagem de Vasco da Gama, de parceria com Viriato Campos, 1968.
Tradução directa do Árabe do Alcorão, edição crítica, profusamente anotada e comentada, 1970.
Ensaio sobre Faro no Tempo dos Mouros, 1971.
Dicionários – Alguns dos seus Problemas, 1971.
Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, 1981.
Notas Camonianas, 1982
Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 1984
Pessoas, Factos e Livros, 4 volumes, colectânea de artigos publicados no Boletim dos Serviços Bibliográficos da Livraria Portugal, desde 1953 a 1990. Aguarda-se a publicação do 5º volume, contendo os artigos elaborados de 1991 até à actualidade.
Vocabulário Português de Origem Árabe, 1993.
Ensaios Arábico-Portugueses, 1994
Ensaios Literários e Linguísticos, 1995.
Palavras a Propósito de Palavras – Notas Lexicais, 1995.
Estrangeirismos na Língua Portuguesa, 1996.
Ensaios Histórico-Linguísticos, 1996.
O Grande Livro dos Provérbios, 1998.
Breve Dicionário Enciclopédico da Língua Portuguesa, 1999.
Grande Vocabulário da Língua Portuguesa, 2000
Apresentei para tal algumas razões, mais que suficientes, a meu ver, que evidenciavam o seu mérito intelectual, moral e cívico, verdadeiramente invulgares, em qualquer época considerada.
Infelizmente, a oportunidade não foi aproveitada pelas entidades competentes e agora já só poderá sê-lo a título póstumo.
José Pedro Machado faleceu subitamente, na passada 3ª feira, dia 26 de Julho, de manhã, quando se preparava para sair de casa, para a compra habitual do seu jornal diário.
Desapareceu um grande homem, de alta estatura moral, intelectual e cívica, numa era tão escassa de valores humanos, em Portugal e no Mundo. Fica a sua obra, vasta e valiosa, e, sobretudo, o seu subido exemplo de cidadão íntegro, estudioso das coisas pátrias, amigo da sua terra natal, do seu país, que destacadamente honrou, como um nobre patriota, útil servidor da Comunidade em que viveu.
À família enlutada, endereço as minhas sentidas condolências.
À sua grata memória, deixo o texto abaixo, que irei enviar também a alguns órgãos da Comunicação Social, na esperança de que um deles, pelo menos, seja capaz de lhe dar merecida divulgação, para conhecimento, sobretudo, das actuais jovens gerações, para que busquem no seu exemplo inspiração e ânimo para vencerem as descrenças e as dificuldades presentes, para que arranquem Portugal do pessimismo, da incompetência e da corrupção, autênticos monstros horrendos do nosso actual infortúnio colectivo, óbices a qualquer caminho de progresso.
AV_Lisboa, 28 de Julho de 2005
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Em Memória de José Pedro Machado
( N. em Faro a 08-11-1914 – F. em Lisboa a 26-07-2005 )
- Breve nota biográfica
José Pedro Machado nasceu no Algarve, na cidade de Faro, a 8 de Novembro de 1914. Veio ainda criança para Lisboa, acompanhando a deslocação do pai, militar da Marinha de Guerra Portuguesa. Aqui viveu a quase totalidade da sua existência, como filho adoptivo e dedicado da cidade, sem nunca esquecer, todavia, a sua amorosa província natal, à qual prodigalizou sobejas provas de carinho e devoção, de resto, profusamente correspondidas.
Habitou primeiro na zona de Alcântara - Santo Amaro, na Rua Bocage, actual Rua Amadeu de Sousa Cardoso, perto da Rua Luís de Camões, facto curioso, não despiciendo, como se verá adiante, quando se fizer referência às suas áreas predilectas de investigação filológica e literária.
Morou também na Lapa, na Rua S. Francisco de Borja, durante alguns anos, até se fixar mais tarde na encosta de uma das mais típicas e encantadoras colinas de Lisboa, junto à Graça, na Rua Leite de Vasconcelos, outro nome famoso e influente na sua vida profissional e académica.
Frequentou os Liceus Pedro Nunes, Passos Manuel e D. João de Castro, estabelecimentos de ensino de notáveis pergaminhos, na formação de gerações e gerações de portugueses, em que contactou com alguns excelentes Professores, que cedo lhe despertaram qualidades e vocações invulgares, proporcionando-lhe valiosa preparação para a entrada na Universidade.
De entre esses Mestres, deve salientar-se o nome do Professor Marques Braga, a quem JPM, ao longo da vida e em vários escritos seus, se há-de sempre referir com elevada estima e gratidão, pela benéfica influência que exerceu na sua futura vida profissional e académica.
Estudou depois na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou, em Filologia Românica, em 1938, com altas classificações, tendo logo revelado clara vocação de Filólogo, nas primeiras investigações aí desenvolvidas.
Em particular, essa vocação focalizou-se no estudo do Árabe, em que foi discípulo dilecto do insigne Mestre David Lopes, Professor que, na Universidade Portuguesa, se notabilizou como pioneiro e grande impulsionador dos estudos da Língua e Cultura Árabes. A tese de licenciatura de JPM – Comentários a Alguns Arabismos do Dicionário de Nascentes – incidiu, aliás, nesse tema, ainda hoje pouco cultivado em Portugal.
Destinava-se, como tudo indicava, a uma promissora carreira universitária, quando se iniciou como Assistente, na sua Faculdade de Letras, tendo chegado a estar nomeado, por parecer de dois dos mais ilustres Professores da Faculdade, David Lopes e Leite de Vasconcelos, para Leitor de Português, na Universidade de Argel, onde certamente aprofundaria – ainda mais – o seu gosto e o seu conhecimento da Língua e Cultura Árabes.Desafortunadamente, o desencadear da Segunda Guerra Mundial, nos primeiros dias de Setembro de 1939, acabaria por impossibilitar tão justificada nomeação.
Foi também naquela Faculdade que conheceu a que viria a ser sua mulher, a Professora Doutora Elza Paxeco, com ele co-autora da muito citada edição comentada do Cancioneiro da Biblioteca Nacional, antigo Colocci-Brancuti e, ela própria, pessoa de notável capacidade intelectual, tendo sido a primeira senhora doutorada em Letras pela Universidade de Lisboa (1938) e autora de diversos trabalhos de investigação que lhe granjearam igualmente merecida reputação.
Foi afastada da Universidade, em consequência de rivalidades, invejas e intrigas, conhecidas maleitas, mesquinhas mas deletérias, que costumam assolar os agitados bastidores universitários, comprovado mal de todos os tempos e de todas as Academias.
Algo de grave se terá então passado, para ter levado Pedro Machado, em solidariedade, a demitir-se das suas funções de Assistente e, em alternativa, a ter preferido um lugar mais modesto, mas mais seguro, de Professor Efectivo do Ensino Secundário, naqueles espartanos tempos do começo da Segunda Guerra Mundial.
Assim a Universidade Portuguesa se privou de uma alta e certa vocação de investigador, designadamente, nas áreas da Filologia, da Literatura e da História, áreas em que, não obstante, ao longo da sua dilatada vida, Pedro Machado muito trabalhou, em condições menos adequadas, é certo, mas sempre com bons resultados, tanto mais brilhantes, quanto mais precárias ou menos favoráveis as condições de trabalho se lhe apresentaram.
Logo que licenciado, começou José Pedro Machado a colaborar em revistas especializadas de Filologia, a convite de Mestres que lhe reconheciam a capacidade intelectual, a cuidada preparação e a integridade de carácter, condições difíceis de encontrar reunidas, em plano elevado, em qualquer comum mortal, em qualquer época.
Na década de 40, escreve e edita vários volumes dedicados ao estudo da Língua Portuguesa, mas é em 1952 que surge a sua primeira grande obra, de autêntico Filólogo, o Dicionário Etimológico da LP, hoje com cinco volumes, que tem conhecido várias reedições, confirmando o interesse do vasto público por tema pouco estudado entre nós. Basta assinalar que, desde essa data, embora não sendo um trabalho perfeitíssimo, como há quem aponte, ainda nenhum outro português ousou publicar livro idêntico, ao contrário do que tem sucedido com os tradicionais dicionários generalistas da Língua Portuguesa.
No Brasil, foram também raros os que se aventuraram a tal empreendimento, embora, neste domínio, se deva reconhecer o grande mérito do trabalho pioneiro de Antenor Nascentes, de que Pedro Machado largamente aproveitou, no convívio intelectual e pessoal que com ele manteve ao longo da vida.
Em complemento ao Dicionário Etimológico de José Pedro Machado, deve citar-se o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, em três volumes, obra importante, num campo em que, analogamente, não tem havido emulação entre nós.
Trata-se de um tipo de obras que exige longa e esmerada preparação, em várias disciplinas complementares do saber filológico, da Língua à História, à Literatura, à Geografia, à Antropologia, etc., a par de uma fina perspicácia intelectual, capaz de desenredar termos e conceitos, por regra, envoltos em polémicas ou disputas, em que se ganham ou destroem reputações.
Lexicógrafo de largo fôlego, José Pedro Machado elaborou ou coordenou, ao longo de décadas, muitos Dicionários afamados da Língua Portuguesa, desde o mui conceituado Morais, um dos primeiros dicionários da Língua Portuguesa, continuamente actualizado desde 1789, da autoria de um brasileiro, António de Morais Silva, bacharel em Direito, pela Universidade de Coimbra, até ao Grande Dicionário da Sociedade da Língua Portuguesa, numa prova cabal da sua competência, sempre exercida com inquebrantável dedicação, arrostando com carências, dificuldades e até incompreensões diversas.
Outro notável trabalho seu veio a ser a tradução directa do Árabe, para a nossa Língua, do livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão, cujas profusas e minuciosas notas, pejadas de esclarecimentos, no domínio da História, da Língua, da Geografia e até da Religião, enriqueceram extraordinariamente a obra, inserindo-a no seu contexto cultural e histórico, para bem se compreenderem o seu significado e a sua importância.
Nestas obras mais significativas da sua larga produção intelectual está bem patente toda a sua vasta e sólida formação, todo o seu ânimo empreendedor, que o levaram a meter ombros a trabalhos espinhosos, exigentes, arrojados e, invariavelmente, de escassa publicidade e diminuto prémio material.
Mencione-se também a sua continuada ligação à Livraria Portugal, por via da sua íntima amizade com um dos antigos proprietários e fundadores, Henrique Pinto, já falecido, igualmente espírito empreendedor, com apurado sentido cultural, no exercício da sua nobre função de livreiro, comprovado até na forma como soube atrair e conservar a cooperação de Pedro Machado no prestimoso Boletim dos Serviços Bibliográficos da Livraria, a que ele galhardamente emprestou toda a pujança do seu saber, numa escrita sóbria, mas rigorosa, elegante, na sua aparente simplicidade, cumprida com escrupulosa regularidade.
Aqui, mensalmente, desde a década de 50 do século passado, Pedro Machado publicava artigos de oportuna intervenção cultural, sobre múltiplos temas da Cultura Portuguesa, sobretudo, que, depois, a Livraria, fundada em 1941, reunia e editava em livro, com o título de «Factos, Pessoas e Livros», ao fim de cada década, nos aniversários da Empresa.
Estão assim publicados 4 volumes, que cobrem aquela colaboração até ao fim de 1990, tendo o 4º volume saído em 1991, na comemoração do cinquentenário da Livraria, aguardando-se o seu 5º e último volume, que se encontra preparado para ser editado, com os artigos elaborados desde 1991 até ao presente.
Hábito muito antigo de Pedro Machado foi também o de escrever na imprensa nacional e regional, nomeadamente no Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital, no Jornal de Sintra, no Correio do Sul, n‘O Algarve, no Jornal do Fundão, no Diário de Notícias, onde, aliás, manteve, durante anos sucessivos, na década de 90, uma coluna dedicada a questões da Língua Portuguesa, verdadeiro oásis no deserto de esquecimento a que este tema tem sido votado nos principais órgãos de Comunicação Social, nos últimos decénios.
Desavisadamente, deixou o Diário de Notícias extinguir aquele potente farol cultural, que derramava a luz do seu imenso saber, numa tribuna sempre muito procurada, com um enorme volume de correspondência, prova irrefutável do interesse que a sua coluna despertava nos muitos leitores do jornal.
Colaborou também com o eminente filólogo, Padre Raul Machado, na preparação das suas populares Charlas Linguísticas, transmitidas pela Radio-Televisão Portuguesa (1960), que a Sociedade da Língua Portuguesa posteriormente reuniu e editou em livro com as lições aí expendidas.
Analogamente, escreveu em revistas nacionais e estrangeiras, como o Bulletin Hispanique ( Bordéus ), a Revista Filológica do Rio de Janeiro, o Boletim de Filologia de Lisboa, a Revista de Portugal, a revista Ocidente, o Boletim Mensal da Sociedade da Língua Portuguesa, a revista Língua e Cultura da mesma Sociedade, etc.
Sem pretender carregar esta breve nota biográfica, citarei ainda a participação de José Pedro Machado em obras colectivas de forte impacte cultural, como a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, o Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, a sua colaboração com a Comissão Científica da Academia das Ciências de Lisboa para o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro de 1945.
Citaremos igualmente a enorme simpatia e o elevado apreço com que os estudiosos brasileiros da Língua Portuguesa sempre se referiam a José Pedro Machado, como pessoalmente pôde verificar o Professor Joaquim Veríssimo Serrão, Presidente da Academia Portuguesa da História, quando com ele viajou, em Agosto de 1959, até Salvador da Baía, no Brasil, onde se realizou o IV Encontro Internacional de Estudos Luso-Brasileiros.
No volume recentemente editado por aquela Academia, por ocasião da homenagem que, em sessão especial, a 17 de Novembro de 2004, lhe prestaram, na passagem do seu 90º aniversário, foram reunidos diversos trabalhos em homenagem a José Pedro Machado. Num deles, em comovido e comovente texto, Veríssimo Serrão relata, com pormenor e genuína afeição, vários episódios do seu convívio com JPM, como igualmente atesta as numerosas provas de carinho que lhe foram prodigamente manifestadas pelos seus pares brasileiros.
Em texto do próprio José Pedro Machado, num livro intitulado «Ensaios Literários e Linguísticos», publicado em 1995, pela Editorial Notícias, ficou, aliás, bem assinalada, em particular, a grande amizade que o unia ao Mestre brasileiro, Antenor Nascentes, Professor ilustre, profundo conhecedor da Língua Portuguesa e autor também de um notável Dicionário Etimológico, no qual JPM se inspirou e de cujo estudo fecundo muito beneficiou para posteriormente elaborar o seu.
Na sessão especial referida, no final de 2004, a Academia Portuguesa da História decidiu elevar José Pedro Machado à categoria de Académico de Mérito daquela Instituição, após ter sido sucessivamente seu Sócio Correspondente e Académico de Número, distinguindo desta forma a sua prolífica e valiosa colaboração, nas diversas actividades em que estatutariamente participou.
Já antes, em 1999, esta prestigiosa Academia tinha proposto, ao então Ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, a atribuição de uma medalha de Mérito Cultural a JPM, que aquele favoravelmente despachou. Era José Pedro Machado também possuidor de uma Comenda da Ordem da Instrução Pública, outorgada em 1996.
Tendo sido membro de várias Instituições Culturais, como adiante se indicará em sucinto currículo que se agrega, possuia José Pedro Machado mais algumas distinções, mas ficou por prestar-lhe a mais significativa de todas, a da sua condecoração pública, no 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões, e das Comunidades, entidades a que ele tanto trabalho e saber dedicou ao longo da sua extensa e multi-facetada vida. Camões e Portugal são temas predilectos, constantemente honrados na produção literária de José Pedro Machado.
Na verdade, o seu nome, ao lado dos já consagrados nesta data, nestes últimos 31 anos de Liberdade e Democracia, ressalta como uma evidência da justiça que ficou por fazer-lhe em vida.
Cumpre reparar, ainda que a título póstumo, esta lamentável falta do Portugal democrático, para com quem sempre o serviu com elevação, competência e dignidade, no Espírito, como na Ética, num comportamento cívico a todos os títulos irrepreensível.
Quero acreditar que ainda seja possível corrigi-la.
Honremos, nessa imperiosa correcção, a digna memória de José Pedro Machado.
Um seu antigo aluno, amigo de sempre, profundamente grato do seu frutuoso magistério e do seu amável convívio.
AV_Lisboa, 28 de Julho de 2005
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Currículo e Bibliografia abreviados do Dr. José Pedro Machado
Currículo :
Licenciatura em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1938.
Curso de Ciências Pedagógicas, pela Universidade de Coimbra, em 1940.
Assistente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Professor Efectivo do Ensino Técnico Secundário, na Escola Industrial Afonso Domingues, mais tarde Escola Secundária Afonso Domingues.
Director em exercício da Escola Industrial Afonso Domingues.
Membro das seguintes Agremiações Culturais :
Academia Portuguesa da História,
Sociedade Euclides da Cunha ( Paraná )
Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo.
Academia Brasileira de Filologia.
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Academia Nacional de la Historia ( Venezuela ).
Real Academia de la Historia ( Espanha ).
Academia Real Sueca de Belas-Artes, História e Antiguidades.
Academia de Marinha ( Lisboa ).
Sócio de Honra da Sociedade da Língua Portuguesa
Bibliografia :
Alguns Vocábulos de Origem Arábica, 1939.
Contemplação de S. Bernardo Segundo as Sei9s Horas Canónicas do Dia ( Texto do séc. XV.
Comentários a Alguns Arabismos do Dicionário de Nascentes, 1940.
Curiosidades Filológicas, 1940.
Sintra Muçulmana, 1940
Évora Muçulmana, 1940
Gonçalves Viana, 1940.
O Português do Brasil, 1942
Elementos Hispânicos do Vocabulário Latino, 1943.
Descobrimentos Portugueses, colaboração na monumental edição do Dr. João Martins da Silva Marques, seu Professor na Universidade, 1944.
As Origens do Português, 1945.
Breve História da Linguística, 1945.
Origem da Língua Portuguesa de Duarte Nunes de Leão, 1945.
Bases da Nova Ortografia, 1946.
Cancioneiro de Évora, 1951
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 1952.
Os Estudos Arábicos em Portugal, 1954.
Gramática da Língua Portuguesa de João de Barros, 1957.
Influência Arábica no Vocabulário Português, 1958.
Dicionário do Estudante, 1960.
Os Mais Antigos Arabismos da Língua Portuguesa, 1961.
Notas de Toponímia Portuguesa, 1962
Notas Etimológicas, 1963.
Edição Comentada do Cancioneiro da Biblioteca Nacional, em parceria com Elza Paxeco, 1947-1964.
Nótulas de Sintaxe Portuguesa, 1965
Elementos Arábicos no Vocabulário Técnico dos « Colóquios» de Garcia d’Orta, 1963.
Topónimos Estrangeiros em Fernão Lopes, 1967
Acerca do Nome Árabe de Lisboa em colaboração com Elza Paxeco, 1968.
A Viagem de Vasco da Gama, de parceria com Viriato Campos, 1968.
Tradução directa do Árabe do Alcorão, edição crítica, profusamente anotada e comentada, 1970.
Ensaio sobre Faro no Tempo dos Mouros, 1971.
Dicionários – Alguns dos seus Problemas, 1971.
Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, 1981.
Notas Camonianas, 1982
Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 1984
Pessoas, Factos e Livros, 4 volumes, colectânea de artigos publicados no Boletim dos Serviços Bibliográficos da Livraria Portugal, desde 1953 a 1990. Aguarda-se a publicação do 5º volume, contendo os artigos elaborados de 1991 até à actualidade.
Vocabulário Português de Origem Árabe, 1993.
Ensaios Arábico-Portugueses, 1994
Ensaios Literários e Linguísticos, 1995.
Palavras a Propósito de Palavras – Notas Lexicais, 1995.
Estrangeirismos na Língua Portuguesa, 1996.
Ensaios Histórico-Linguísticos, 1996.
O Grande Livro dos Provérbios, 1998.
Breve Dicionário Enciclopédico da Língua Portuguesa, 1999.
Grande Vocabulário da Língua Portuguesa, 2000
Comments:
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Caro António muito obrigada por não esquecer este (nosso) grande mestre. Quão mais pobres seríamos sem ele! obrigada pelo seu texto
José Pedro Machado pode não ser reconhecido e divulgado nos meios de comunicação de maior tiragem mas não é propriamente um autor desconhecido! Felizmente, a sua obra é conhecida para além dos meios académicos mais restritos pois é uma referência fundamental e insubstituível, com alguns dos títulos amplamente reeditados, nomeadamente o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, que creio já ir na 6ª ed. (Lisboa: Livros Horizonte, 1990). Um outro dos seus livros mais recentes, O Grande Livro dos Provérbios, 1998, também é uma obra muito conhecida pelas novas gerações. Tudo isto não implica que não lhe dê razão no que respeita à necessidade de uma maior divulgação de personalidades impares como a de José Pedro Machado para, como diz, "conhecimento, sobretudo, das actuais jovens gerações, para que busquem no seu exemplo inspiração e ânimo para vencerem as descrenças e as dificuldades presentes, para que arranquem Portugal do pessimismo, da incompetência e da corrupção (..)»
Cordialmente
Manuela
Cordialmente
Manuela
Soube pelo "Dias Com Árvores" e pela ligação feita aqui para o "Alma Lusíada" do falecimento dessa figura ímpar das cultura e das letras que foi JOSÉ PEDRO MACHADO. Quando diariamente a televisão dedica horas à boçalidade mais inominável é, no mínimo, elucidativo o facto de quase não se falar do falecimento desta figura incontornável... Relembro a este propósito as palavras de António Losa, que imediatamente ribombaram na minha memória: «O arabista é, entre nós, o indivíduo a quem se recorre para satisfazer pequenas curiosidades, a quem se agradece à pressa - quando se agradece. E mal fecha os olhos, cansado e desiludido, cai sobre ele, mais pesado que a lousa sepulcral, o véu do silêncio.»... Que este nosso grande mestre (que, conheço apenas através da sua obra) descanse em paz. Inch Allah!
O tamanho da noticia da morte de José Pedro Machado é inversamente proporcional à sua grandeza.
Dou-lhe os parabéns pelo seu texto que publicou em Maio o qual de tão bom e completo que é, apenas me limitei a fazer a ligação na singela homenagem que fiz no meu blog em que lhe dediquei o Poema "Lingua Portuguesa" desse grande poeta, criminosamente esquecido que foi António Correia de Oliveira
Dou-lhe os parabéns pelo seu texto que publicou em Maio o qual de tão bom e completo que é, apenas me limitei a fazer a ligação na singela homenagem que fiz no meu blog em que lhe dediquei o Poema "Lingua Portuguesa" desse grande poeta, criminosamente esquecido que foi António Correia de Oliveira
Belíssima homenagem a seu Mestre!
E que Mestre! Que bagagem de conhecimento e de realizações!
Ele nasceu no mesmo ano que meu pai...
Não me acostumo com a morte...
ABRAÇOS,
Bisbilhoteira.
www.bisbilhotices.blogger.com.br
E que Mestre! Que bagagem de conhecimento e de realizações!
Ele nasceu no mesmo ano que meu pai...
Não me acostumo com a morte...
ABRAÇOS,
Bisbilhoteira.
www.bisbilhotices.blogger.com.br
Sobre ele falavamos em maio, comentavamos que este fato poderia ocorrer.Tão ilustre professor não receber em vida todas as homenagens merecidas.
Lamento o fato, a passagem é sempre dolorosa para todos:os que convivem ou conviveram e para os que aprenderam a admirá-lo por intermédio de outras pessoas. Só nos resta agora mantê-lo vivo em nossa memória.
Meus sentimentos ao povo português e a Portugal por esta imensa perda.
Lamento o fato, a passagem é sempre dolorosa para todos:os que convivem ou conviveram e para os que aprenderam a admirá-lo por intermédio de outras pessoas. Só nos resta agora mantê-lo vivo em nossa memória.
Meus sentimentos ao povo português e a Portugal por esta imensa perda.
Talvez a notícia da morte de José Pedro Machado não tenha a notoriedade que merece alguém que trazia nobreza e humanidade a todos os textos que escrevi. Transpareci por vezes uma bonomia irónica, um saber profundo cujas raízes radicam no melhor da tradição da cultura portuguesa. Orgulhou-se uma vez de «ainda ter conhecido José Leite de Vasconcelos» e quem o leu também pode dizer «ainda conheci José Pedro Machado» e ficar um pouco mais reconciliado com o Tempo. Vale a pena que se lhe dedique um espaço aqui pois será uma referência a uma época onde se revelou um dos mariores na cinza e sombra de uma vetativa mediocridade. Recordar este nome é abrir páginas da Cultura Portuguesa.
Lúcia Costa Melo
Lúcia Costa Melo
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Tudo o que eu puder dizer sobre um Homem desta dimensão é pouco: um Professor, um Amigo, um Conselheiro, um segundo Pai.
Lembro-me delea aproximar-se da nova Esccola Afonso Domingos, vindo do autocarro,com uma pasta de cabedal em fole.
Calmamente entrava na Escola onde era bem acolhido por todos os alunos que estavam no á
trio.
Hás vezes jantava no refeitório da Escola. Ainda me lembro da última refeição que ele comeu próximo de mim; foram uñs pastéis de bacalhau com arroz de tomate.
Depois eu mudei para a Fonseca Benevides, onde havia um curso de electrónica e ele continuou na Afonso Domingues, tal como outros grandes Professores: Belarmino Barata, Salvado Sampaio etc. e, outros que é bom não nos lembrarmos deles. Felizmente não eram muitos. Só peço desculpa a todos os outros que aqui não menciono.
O Professor Pedro Machado é um exemplo de competência que nós tivemos o previlégio de encontrar numa Escola Secundária e, que muitas Universidades não o tiveram.
Vejam o corrículo deste SENHOR e, comparem-no com muitos "pavões" que
populam à nossa volta que, como por dentro não têm nada para nos dar, são arrogantes, falam alto, parece que todos lhe devem e ninguém lhes paga;quando eles é que dvem tudo a todos nós e, se não existissem era um incomensurável benefício para a Humanidade.
Senhor Professor Pedro Machado, Quando se bé competente; não é preciso salvar as aparências, basta ser-se natural, simpes e, ter uma obra invejável como a do SENHOR. Homens assim não morrem permanecem connosco diàriamente, consultamo-os quando precisamos. oos outros?...Os outros já foram.
PS. A minha intenção é procurar que quem puder, dentro das suas capacidades, siga o exemplo deste Homem, com Obras e não com aparências
Manuel Leonardo Horta nova
Lembro-me delea aproximar-se da nova Esccola Afonso Domingos, vindo do autocarro,com uma pasta de cabedal em fole.
Calmamente entrava na Escola onde era bem acolhido por todos os alunos que estavam no á
trio.
Hás vezes jantava no refeitório da Escola. Ainda me lembro da última refeição que ele comeu próximo de mim; foram uñs pastéis de bacalhau com arroz de tomate.
Depois eu mudei para a Fonseca Benevides, onde havia um curso de electrónica e ele continuou na Afonso Domingues, tal como outros grandes Professores: Belarmino Barata, Salvado Sampaio etc. e, outros que é bom não nos lembrarmos deles. Felizmente não eram muitos. Só peço desculpa a todos os outros que aqui não menciono.
O Professor Pedro Machado é um exemplo de competência que nós tivemos o previlégio de encontrar numa Escola Secundária e, que muitas Universidades não o tiveram.
Vejam o corrículo deste SENHOR e, comparem-no com muitos "pavões" que
populam à nossa volta que, como por dentro não têm nada para nos dar, são arrogantes, falam alto, parece que todos lhe devem e ninguém lhes paga;quando eles é que dvem tudo a todos nós e, se não existissem era um incomensurável benefício para a Humanidade.
Senhor Professor Pedro Machado, Quando se bé competente; não é preciso salvar as aparências, basta ser-se natural, simpes e, ter uma obra invejável como a do SENHOR. Homens assim não morrem permanecem connosco diàriamente, consultamo-os quando precisamos. oos outros?...Os outros já foram.
PS. A minha intenção é procurar que quem puder, dentro das suas capacidades, siga o exemplo deste Homem, com Obras e não com aparências
Manuel Leonardo Horta nova
MEMÓRIAS DE UM ALUNO, COMO SINGELA HOMENAGEM
A UM GRANDE PROFESSOR - JOSÉ PEDRO MACHADO -
O MEU PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCOLA INDUSTRIAL DE AFONSO DOMINGUES, EM XABREGAS TERÁ SIDO DE ENTRE MAIS DE UMA DEZENA DE MESTRES QUE TIVE O PREVILÉGIO DE ME TEREM ENSINARAM ALGO, AQUELE QUE MAIS ME MARCOU, NÃO SOMENTE EM TERMOS ACADÉMICOS, MAS E SOBRETUDO, NO RELACIONAMENTO HUMANO QUE DESDE A PRIMEIRA HORA MANTEVE COMIGO E OUTROS COLEGAS MEUS, NA “VELHINHA ESCOLA.
O DESAPARECIMENTO FISICO EM 2005, DO DR. JOSÉ PEDRO MACHADO, NÃO AFASTE DE FORMA ALGUMA A JUSTEZA DE, AQUELES QUE LHE SÃO DEVEDORES DE GRATIDÃO LHE PRESTAREM HOMENAGEM.
RECONHEÇO PASSADAS QUE SÃO, VÁRIAS DÉCADAS DESDE QUE DEIXEI A “UNIVERSIDADE DE XABREGAS”, QUE A PERSONALIDADE DO INSÍGNE MESTRE, ME MARCOU PROFUNDAMENTE.
ESCREVER SOBRE O PROFESSOR JOSÉ PEDRO MACHADO, LEVA-NOS INEVITAVELMENTE A RECUAR NO TEMPO, RECORDANDO MOMENTOS DA NOSSA JUVENTUDE QUE NOS SÃO IMENSAMENTE GRATOS, E SE REPORTAM À LONGÍNQUA DÉCADA DE 50, EM PLENA DITADURA.
ENTREI NA FAMOSA ESCOLA PELA PRIMEIRA VEZ, EM AGOSTO DE 1950, ACOMPANHADO POR MEU PAI, AFIM DE “FAZER” A MATRÍCILA; OUTROS PAIS DE ALUNOS, JÁ LÁ ESTAVAM PARA O MESMO FIM, E ESSE FOI O NOSSO PRIMEIRO CONTACTO COM UM MUNDO ESTRANHO AO NOSSO “UNIVERSO” DE JOVEM, NA ZONA DE OLIVAIS/MOSCAVIDE, ESPECIALMENTE O DA ESCOLA PRIMÁRIA Nº 55, NA CONHECIDA “VILA GOUVEIA”.
ESTE PRIMEIRO CONTACTO DEU-NOS CONFIANÇA POIS CONSTATÁMOS QUE A ESCOLA AFONSO DOMINGUES. ERA O LOCAL ONDE OS FILHOS DOS OPERÁRIOS APRENDIAM ALGO PARA ALÉM DA CLÁSSICA QUARTA CLASSE. ESTAVAMOS NO TEMPO EM QUE OS NOSSOS PAIS FAZIAM GRANDES SACRIFÍCIOS PARA QUE OS FILHOS FOSSEM UM POUCO MAIS ILUSTRADOS, E ACIMA DE TUDO APRERNDESSEM UMA PROFISSÃO COM FUTURO. INSCREVEMO-NOS NO CURSO DE SERRALEIRO, TENDO COMO COLEGAS, FILHOS DE OUTROS OPERÁRIOS.
POR AQUELA ÉPOCA VIVIAMOS AINDA OS CLAMORES DA VITÓRIA ALIADA SOBRE OS NAZIS ALEMÃES (1945), E SOBRETUDO A REPRESSÃO PIDESCA QUE SE ABATIA SOBRE OS OPERÁRIOS, NOSSOS PAIS LOGO NOS ANOS SEGUINTES, E PASSADOS QUE FORAM OS ESPERANÇOSOS MAS CURTOS MOMENTOS DA CAMPANHA DO GENERAL NORTON DE MATOS.
COMEÇADO O DIA-A-DIA ESCOLAR, CADA SEMANA QUE PASSAVA ERA UMA NOVA AVENTURA; O PÃO COM PEIXE FRITO, QUE DE CASA LEVAVAMOS NA MALA DA ESCOLA, MISTURANDO-SE COM OS CADERNOS ESCOLARES, ERAM A IMAGEM DAS DIFICULDADES VIVIDAS NESSES TENPOS. HAVIA NO ENTANTO AS COMPENSAÇÕES DIÁRIAS, TRADUZIDAS NAS AUTÊNTICAS AVENTURAS QUE REPRESENTAVAM AS “VIAGENS” NO CARRA ELÉCTRICO DA CARREIRA NOVE (POÇO BISPO-RUA DA ALFÂNDEGA), ONDE A ANEDRALINA ATINGIA O AEU PONTO ALTO, QUANDO O REVISOR CORRIA RÁPIDO, E NOS OBRIGAVA A SALTAR, FOSSE ONDE E A QUE VELOCIDADE SEGUISSE. UMA DAS VEZES, O CARRO ELECTRICO IA A “NOVE PONTOS” (ESCALA DE VELOCIDADE), E O REVISOR ESPEROU A CALÇADA DA MANUTENÇÃO PARA “CORRER” COM OS PASSAGEIROS CLANDESTINOS, PENDURADOS NO ESTRIBO TRASEIRO; O MANUEL TABELIÃO (DE SACAVÉM), AINDA POUCO ESPEDITO A SALTAR, ACABOU ESTATELADO NO CHÃO, COM UM JOELHO DEITADO ABAIXO, O QUE ME OBRIGOU A ACOMPANHÁ-LO AO HOSPITAL DE S. JOSÉ.
COMO “COMPENSAÇÃO” HAVIA AS PROVAS DE NATAÇÃO NO RIO TEJO, SOBRETUDO OS MERGULHOS FEITOS DO CIMO DA VELHA NAU "NAZARÉ" QUE DEMOROU LARGOS ANOS A MORRER NA PRAIA DE XABREGAS, E QUE FOI “RESPONSÁVEL” POR MUITOS JOVENS TEREM APRENDIDO A NADAR, ISTO SEM ESQUECER OS JOGOS DE FUTEBOL REALIZADOS NO CAMPO DA MATA (MADRE DEUS), ONDE APARECIAM POR VEZES APARECIAM ALGUNS DOS NOSSOS ÍDOLOS DO C.O.L. (CLUBE ORIENTAL DE LISBOA), QUE REFORÇAVAM AS EQUIPAS DE OCASIÃO.
HAVIA TAMBÉM OS RENHIDOS DESAFIOS DE MATRAQUILHOS NA TABERNA DO "TI JOÃO" (ONDE OS VELHOS PESCADORES DE XABREGAS, JOGAVAM À LARANJINHA) A CAMINHO DA PRAIA DE XABREGAS, E SEMPRE QUE NO BOLSO SURGIAM PERDIDOS, UNS “MÍSEROS” CINCO OU DEZ TOSTÕES, LÁ IAMOS COMER UMA SOPA À TABERNA DA "TI HENRIQUETA" JUNTO AO “ARCO DE XABREGAS”, OU “ALINHAVAMOS NA “SOPA DO SIDÓNIO” NA “COZINHA ECONÓMICA”, DEFRONTE DA FÁBRICA DO TABACO.
POR AQUELA ÉPOCA, OS NOSSOS CAMARADAS DE ESCOLA, ERAM COMO FACILMENTE SE DEPREENDE, GENTE DAS MESMAS ORIGENS E EXTRACTO SOCIAL; TINHAMOS GRANDES AMIGOS ENTRE OS ALUNOS INTERNOS DA “MITRA” (O CARLITOS, A IDALINA RATO ARANHA E O ANTÓNIO DIAS DA COSTA, POR EXEMPLO); OUTROS COMO O ALBERTINO ANTÓNIO MOREIRA, O GUINEENSE RAÚL ANDRADE PRAZERES, ORLANDO PEREIRA MAIA, O FLORIVAL, O TORCATO, O NETO DO SAPATEIRO DA CALÇADA D. GASTÃO (CUJO NOME NÃO RECORDO), VIVENDO EM VÁRIAS ZONAS DA CIDADE DE LISBOA, FAZIAM IGUALMENTE PARTE DO NOSSO CICLO DE RELAÇÕES; DA “LINHA” LISBOA-AZAMBUJA, TINHAMOS O FERNANDO AMARAL DE ALMEIDA (GRANDE JOGADOR DE FUTEBOL), RUI CASALEIRO, ÁLVARO ABRANTES MARTINS, MANUEL CARLOS SÉNICA BAPTISTA, MANUEL LUÍS MARQUES TABELIÃO, JOÃO DA CONCEIÇÃO FERREIRA NETO, ANTÓNIO JOSÉ MARQUES CALÇADA, O JOSÉ MANUEL TRISTÃO E OUTROS QUE COMO NÓS VINHAM DE COMBÓIO DOS LADOS DE VILA FRANCA, ATÉ BRAÇO DE PRATA OU CHELAS, CONFORME OS CASOS.
A INESPERADA MORTE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA (OSCAR CARMONA), SERVIU PARA APROVEITARMOS O “FERIADO” DESSE DIA E IRMOS A PÉ ATÉ À BAIXA LISBOETA. PASSÁMOS PELO PALÁCIO FOZ, AOS RESTAURADORES, ONDE FIZEMOS MAIS UMA FAÇANHA PRÓPRIA DE JOVENS DA NOSSA IDADE, E DE GRANDE IRRESPONSABILIDADE POLÍTICA, QUE PODERIA TER DADO MAU RESULTADO – A SALA DIREITA DO RÉS-DE-CHÃO TINHA GRANDES MESAS CHEIAS DE PROPAGANDA DO S.N.I., E UM DE NÓS LEMBROU-SE QUE O MELHOR SERIA DEITARMOS TUDO AO CHÃO, O QUE FIZEMOS RAPIDAMENTE, E QUANDO OS CONTÍNUOS DE FARDA AZUL, DERAM POR ISSO, JÁ NOS FUGIAMOS AVENIDA DA LIBERDADE ACIMA.
MAS VAMOS AO IMPORTANTE DESTE ARTIGO, QUE TRATA DA FIGURA ÍMPAR DO PROFESSOR JOSÉ PEDRO MACHADO.
O PROFESSOR PEDRO MACHADO FOI NOSSO PROFESSOR DE PORTUGUÊS; ERA O TIPO DE PESSOA DE UMA HUMANIDADE A TODA A PROVA, QUE FÁCILMENTE GRANJEOU SIMPATIA ENTRE OS FILHOS DA “MALTA OPERÁRIA”; OUVIA OS NOSSOS QUEIXUMES E DAVA CONSELHOS QUE ERAM SEMPRE MUITO BEM ACOLHIDOS; E NÃO SE PENSE QUE FALAVA SÓ DE ASSUNTOS ESCOLARES. AS AULAS DO DR. PEDRO MACHADO, ERAM AUTÊNTICAS JANELAS ABERTAS PARA O MUNDO, NUMA ÉPOCA EM QUE O OBSCURANTISMO ERA PARTE IMPORTANTE DA VIDA DO COMUM DOS PORTUGUESES.
A UMA MEIA DÚZIA BEM ESCOLHIDA DE ALUNOS, NOS INTERVALOS DAS AULAS, FALAVA-NOS DA SITUAÇÃO POLÍTICA INTERNACIONAL E DAVA-NOS CONSELHOS BASTANTE ÚTEIS PARA A SITUAÇÃO QUE SE VIVIA NO MOMENTO. RECORDO QUE FALAVA IMENSO SOBRE O BRASIL (DIZIAM NA ESCOLA, QUE ERA CASADO COM UMA BRASILEIRA), E UM DIA FICOU MUITO ADMIRADO POR LHE TER FALADO DE UM DOS MEUS HERÓIS DA JUVENTUDE, LUÍS CARLOS PRESTES, O REVOLUCIONÁRIO BRASILEIRO QUE COMANDOU NOS ANOS TRINTA, UMA COLUNA REVOLUCIONÁRIA (COLUNA PRESTES) QUE FICOU CÉLEBRE, QUE PERCORREU GRANDE PARTE DO BRASIL, ESPALHANDO OS IDEAIS DA IGUALDADE; MAS MESMO ASSIM, O EXPERIENTE PROFESSOR, SORRIA, MAS NÃO “DESARMAVA”. NAQUELE TEMPO ATÉ AS PAREDES TINHAM OUVIDOS, ... E NÓS, AVISADOS EM CASA, TAMBÉM O SABIAMOS.
UM DIA, FOI PRECISO FAZER ALGO EM SOLIDARIEDADE PARA COM OS TRABALHADORES DE XABREGAS EM GREVE, NÃO ME RECORDO JÁ PORQUÊ. OS CARROS ELÉTRICOS PASSAVAM À PORTA DA ESCOLA, E UM DIA ALGUÉM TEVE A IDEIA REVOLUCIONÁRIA DE FAZER DESCARRILAR UM DOS CARROS, COMO ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA; COMO FAZÊ-LO, COUBE A UM DOS MAIS “EXPERIENTES” QUE DE CASA VEIO COM A “LIÇÃO ESTUDADA” – CADA UM TROUXE DE CASA UMA CAIXA DE FÓSFOROS QUE DEPOIS DE TIRADAS COM CUIDADO AS CABEÇAS (DOS FÓSFOROS), SERVIU PARA COM CUIDADO, ENCHER UMA LATA (GRANDE) DE POMADA VAZIA. A CAIXA TINHA QUE FICAR BEM CHEIA, DE MOLDE A QUE FOSSE DIFÍCIL FECHÁ-LA; ASSIM ACONTECEU. COLOU-SE UMA FITA DESIVA E O ARTEFACTO FICOU PRONTO. COLOCOU-SE A CAIXA SOBRE O CARRIL, E PARA DISFARÇAR, COBRIU-SE COM UM PAPEL DE JORNAL, COLOCANDO-SE OUTRAS FOLHAS ESPALHADAS POR PERTO, PARA DISFARÇAR, TORNAQNDO NORMAL O “CENÁRIO”. À PASSAGEM DO CARRO ELÉCTRICO, O ESTAMPIDO DA EXPLOSÃO DA CAIXA CHEIA DE CABEÇAS DE FÓSFOROS, FOI GRANDE, MAS O SALTO QUE O CARRO DEU PARA CIMA DO PASSEIO, JUNTO AO GRADEAMENTO DO ASILO MARIA PIA (FEMININO), FOI MAIOR. PASSADOS UNS MINUTOS JÁ A GNR ESTAVA NO LOCAL, MAS OS RESPONSÁVEIS PELA OPERAÇÃO HAVIAM SAÍDO ESTRATEGICAMENTE PELO ASILO MARIA PIA (MASCULINO), COM O APOIO CONIVENTE DE ALGUNS ALUNOS DAQUELE ESTABELECIMENTO.
AOS SÁBADOS, A FREQUÊNCIA AOS EXERCÍCIOS DA MOCIDADE PORTUGUESA, ERA OUTRA DAS GRANDES PREOCUPAÇÕES DA “MALTA”, QUE POR INDICAÇÃO PATERNAL DEVIA EVITAR TAIS ACTIVIDADES. AS DESCULPAS, AS FALTAS JUSTIFICADAS, ERAM A NOSSA “ARMA” QUE TINHA QUE SER UTILIZADA COM REGRA, PARA EVITAR DESCONFIANÇAS … ATÉ QUE UM DIA, DEPOIS DE TANTO TERMOS JUSTIFICADO, NOS METEM NA MÃO, UMA FARDA E UMA TENDA PARA NO FIM DE SEMANA SEGUINTE IRMOS ACAMPAR, CREIO QUE PARA OS LADOS DE SINTRA.
FORAM TERRÍVEIS OS DIAS QUE PASSÁMOS ATÉ À DATA MARCADA PARA O PROGRAMADO “ACAMPAMENTO”. PENSÁMOS MUITO, TANTO QUE NO DIA APRASADO, ACABAMOS ACAMPADOS NA “QUINTA DO BRITO” AO BEATO, POIS NÃO IRIAMOS APARECER EM CASA COM AQUELE “APARATO” TODO. SE ERA PRECISO ACAMPAR, NÓS ACAMPÁMOS, SÓ QUE NO SÍTIO EXTRA PROGRAMA. NO DIA DA DEVOLUÇÃO DO “MATERIAL” NA “AFONSO DOMINGUES”, DESCULPAMO-NOS AO DIRIGENTE (ENCARREGUE DE RECEBER O MATERIAL), COM O ATRASO NA CHEGADA AO LOCAL DE EMBARQUE (CAMIÕES DA LEGIÃO À PORTA DA ESCOLA), DESCULPA QUE, COM MUITA ADMIRAÇÃO DA NOSSA PARTE, FOI ACEITE SEM COMENTÁRIOS.
SEMPRE QUE POSSÍVEL, DEPOIS DAS AULAS, FAZIAMOS A DISTRIBUIÇÃO CLANDESTINA DE DOCUMENTOS DO MUD-JUVENIL, JUNTO DOS OPERÁRIOS DA TABAQUEIRA, FÁBRICA DE TECIDOS, ALVES RIBEIRO, FÁBRICA DA PÓLVORA (CHELAS), MANUTENÇÃO MILITAR, FÁBRICA DOS FÓSFOROS, ETC.
CERTO DIA O PROFESSOR PEDRO MACHADO NO DECORRER DE UMA AULA, DESCOBRIU UM DOCUMENTO DO MUD-JUVENIL, DEIXADO POR NÓS INADVERTIDAMENTE DENTRO DE UM DOS CADERNOS; SEM ALARIDOS, DISSE-ME PARA FICAR NA SALA DE AULA, NO INTERVALO SEGUINTE. FICÁMOS EM PÂNICO, MAS NO FUNDO COM ALGUMA ESPERANÇA DE CONSEGUIRMOS ULTRAPASSAR O INCIDENTE. CHAGADO O INTERVALO, TIVEMOS UMA CONVERSA DE "HOMEM PARA HOMEM" ONDE TUDO SE ESCLARECEU, TENDO FICADO COM A GARANTIA DE QUE ESTAVA EM PRESENÇA DE UM SENHOR PROFESSOR QUE NOS RECOMENDAVA CUIDADO, MAS QUE ENTENDIA OS NOSSOS PROBLEMAS SOCIAIS E ACIMA DE TUDO AS NOSSAS OPÇÕES POLÍTICAS.
O PROFESSOR JOSÉ PEDRO MACHADO FICA PARA SEMPRE, ESTOU CERTO DISSO, NO CORAÇÃO DOS FILHOS DO POVO, QUE NÃO DISPONDO DE OUTROS MEIOS ECONÓMICOS, FAZIAM DA "AFONSO DOMINGUES" A SUA "UNIVERSIDADE".
OUTROS PROFESSORES FICARAM IGUALMENTE NA NOSSA MEMÓRIA, COMO GENTE COMPETENTE QUE ANDAVA ALI PARA ENSINAR, QUANTAS VEZES COM ENORMES SACRIFÍCIOS, A COMEÇAR PELAS DEFICIENTES INSTALAÇÕES ESCOLARES, PASSANDO PELA IRREGULARIDADES DA FREQUÊNCIA ÀS AULAS DE ALUNOS QUE NÃO CONSEGUIAM DISFARÇAR AS DIFICULDADES SOCIAIS EM QUE VIVIAM.
"MESTRE" ROMÃO, POOL DA COSTA, HERCULANO NEVES, BELARMINO BARATA, LEITE RIBEIRO, ANTONINO HENRIQUES, MESQUITA SPRANGER, "MESTRE" DOMINGUES, ELSA CANDEIAS DE ABREU, E OUTROS, A QUE JUNTAMOS OS NOMES DAS SAUDOSAS SENHORAS, NAZARET E MARIA, COMPETENTÍSSIMAS CONTÍNUAS, QUE NOS ATURAVAM AS TRAQUINICES, QUANDO TOMAVAMOS DE “ASSALTO”, OS VELHOS CORREDORES DA ESCOLA.
CÁ FORA, O VENDEDOR DE "TORRÃO DE ALICANTE" CUJO NOME JÁ NÃO ME RECORDO, MAS QUE ENTRA IGUALMENTE NO MEU UNIVERSO DE GRATAS RECORDAÇÕES.
POR ESSA ÉPOCA, O DIRECTOR DA ESCOLA ERA O ENGº JOÃO FURTADO HENRIQUES, HOMEM QUE TODOS RESPEITAVAM.
QUANDO HOJE CONSTATO A PASSAGEM PELA “UNIVERSIDADE DE XABREGAS” DE NOMES ILUSTRES COMO OS DE BENTO GONÇALVES, JOSÉ SARAMAGO, DIAS LOURENÇO, DOMINGOS ABRANTES, MANUEL GUEDES E TANTOS OUTROS, RECONHEÇO QUANTO IMPORTANTE FOI O PAPEL DAQUELA ESCOLA, NA FORMAÇÃO DE GENTE DE LUTA, NAS MAIS VARIADAS ÁREAS DA SOCIEDADE PORTUGUESA.
SAUDAÇÃO PERMANENTE DO SEU ANTIGO ALUNO, HENRIQUE MOTA
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A UM GRANDE PROFESSOR - JOSÉ PEDRO MACHADO -
O MEU PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCOLA INDUSTRIAL DE AFONSO DOMINGUES, EM XABREGAS TERÁ SIDO DE ENTRE MAIS DE UMA DEZENA DE MESTRES QUE TIVE O PREVILÉGIO DE ME TEREM ENSINARAM ALGO, AQUELE QUE MAIS ME MARCOU, NÃO SOMENTE EM TERMOS ACADÉMICOS, MAS E SOBRETUDO, NO RELACIONAMENTO HUMANO QUE DESDE A PRIMEIRA HORA MANTEVE COMIGO E OUTROS COLEGAS MEUS, NA “VELHINHA ESCOLA.
O DESAPARECIMENTO FISICO EM 2005, DO DR. JOSÉ PEDRO MACHADO, NÃO AFASTE DE FORMA ALGUMA A JUSTEZA DE, AQUELES QUE LHE SÃO DEVEDORES DE GRATIDÃO LHE PRESTAREM HOMENAGEM.
RECONHEÇO PASSADAS QUE SÃO, VÁRIAS DÉCADAS DESDE QUE DEIXEI A “UNIVERSIDADE DE XABREGAS”, QUE A PERSONALIDADE DO INSÍGNE MESTRE, ME MARCOU PROFUNDAMENTE.
ESCREVER SOBRE O PROFESSOR JOSÉ PEDRO MACHADO, LEVA-NOS INEVITAVELMENTE A RECUAR NO TEMPO, RECORDANDO MOMENTOS DA NOSSA JUVENTUDE QUE NOS SÃO IMENSAMENTE GRATOS, E SE REPORTAM À LONGÍNQUA DÉCADA DE 50, EM PLENA DITADURA.
ENTREI NA FAMOSA ESCOLA PELA PRIMEIRA VEZ, EM AGOSTO DE 1950, ACOMPANHADO POR MEU PAI, AFIM DE “FAZER” A MATRÍCILA; OUTROS PAIS DE ALUNOS, JÁ LÁ ESTAVAM PARA O MESMO FIM, E ESSE FOI O NOSSO PRIMEIRO CONTACTO COM UM MUNDO ESTRANHO AO NOSSO “UNIVERSO” DE JOVEM, NA ZONA DE OLIVAIS/MOSCAVIDE, ESPECIALMENTE O DA ESCOLA PRIMÁRIA Nº 55, NA CONHECIDA “VILA GOUVEIA”.
ESTE PRIMEIRO CONTACTO DEU-NOS CONFIANÇA POIS CONSTATÁMOS QUE A ESCOLA AFONSO DOMINGUES. ERA O LOCAL ONDE OS FILHOS DOS OPERÁRIOS APRENDIAM ALGO PARA ALÉM DA CLÁSSICA QUARTA CLASSE. ESTAVAMOS NO TEMPO EM QUE OS NOSSOS PAIS FAZIAM GRANDES SACRIFÍCIOS PARA QUE OS FILHOS FOSSEM UM POUCO MAIS ILUSTRADOS, E ACIMA DE TUDO APRERNDESSEM UMA PROFISSÃO COM FUTURO. INSCREVEMO-NOS NO CURSO DE SERRALEIRO, TENDO COMO COLEGAS, FILHOS DE OUTROS OPERÁRIOS.
POR AQUELA ÉPOCA VIVIAMOS AINDA OS CLAMORES DA VITÓRIA ALIADA SOBRE OS NAZIS ALEMÃES (1945), E SOBRETUDO A REPRESSÃO PIDESCA QUE SE ABATIA SOBRE OS OPERÁRIOS, NOSSOS PAIS LOGO NOS ANOS SEGUINTES, E PASSADOS QUE FORAM OS ESPERANÇOSOS MAS CURTOS MOMENTOS DA CAMPANHA DO GENERAL NORTON DE MATOS.
COMEÇADO O DIA-A-DIA ESCOLAR, CADA SEMANA QUE PASSAVA ERA UMA NOVA AVENTURA; O PÃO COM PEIXE FRITO, QUE DE CASA LEVAVAMOS NA MALA DA ESCOLA, MISTURANDO-SE COM OS CADERNOS ESCOLARES, ERAM A IMAGEM DAS DIFICULDADES VIVIDAS NESSES TENPOS. HAVIA NO ENTANTO AS COMPENSAÇÕES DIÁRIAS, TRADUZIDAS NAS AUTÊNTICAS AVENTURAS QUE REPRESENTAVAM AS “VIAGENS” NO CARRA ELÉCTRICO DA CARREIRA NOVE (POÇO BISPO-RUA DA ALFÂNDEGA), ONDE A ANEDRALINA ATINGIA O AEU PONTO ALTO, QUANDO O REVISOR CORRIA RÁPIDO, E NOS OBRIGAVA A SALTAR, FOSSE ONDE E A QUE VELOCIDADE SEGUISSE. UMA DAS VEZES, O CARRO ELECTRICO IA A “NOVE PONTOS” (ESCALA DE VELOCIDADE), E O REVISOR ESPEROU A CALÇADA DA MANUTENÇÃO PARA “CORRER” COM OS PASSAGEIROS CLANDESTINOS, PENDURADOS NO ESTRIBO TRASEIRO; O MANUEL TABELIÃO (DE SACAVÉM), AINDA POUCO ESPEDITO A SALTAR, ACABOU ESTATELADO NO CHÃO, COM UM JOELHO DEITADO ABAIXO, O QUE ME OBRIGOU A ACOMPANHÁ-LO AO HOSPITAL DE S. JOSÉ.
COMO “COMPENSAÇÃO” HAVIA AS PROVAS DE NATAÇÃO NO RIO TEJO, SOBRETUDO OS MERGULHOS FEITOS DO CIMO DA VELHA NAU "NAZARÉ" QUE DEMOROU LARGOS ANOS A MORRER NA PRAIA DE XABREGAS, E QUE FOI “RESPONSÁVEL” POR MUITOS JOVENS TEREM APRENDIDO A NADAR, ISTO SEM ESQUECER OS JOGOS DE FUTEBOL REALIZADOS NO CAMPO DA MATA (MADRE DEUS), ONDE APARECIAM POR VEZES APARECIAM ALGUNS DOS NOSSOS ÍDOLOS DO C.O.L. (CLUBE ORIENTAL DE LISBOA), QUE REFORÇAVAM AS EQUIPAS DE OCASIÃO.
HAVIA TAMBÉM OS RENHIDOS DESAFIOS DE MATRAQUILHOS NA TABERNA DO "TI JOÃO" (ONDE OS VELHOS PESCADORES DE XABREGAS, JOGAVAM À LARANJINHA) A CAMINHO DA PRAIA DE XABREGAS, E SEMPRE QUE NO BOLSO SURGIAM PERDIDOS, UNS “MÍSEROS” CINCO OU DEZ TOSTÕES, LÁ IAMOS COMER UMA SOPA À TABERNA DA "TI HENRIQUETA" JUNTO AO “ARCO DE XABREGAS”, OU “ALINHAVAMOS NA “SOPA DO SIDÓNIO” NA “COZINHA ECONÓMICA”, DEFRONTE DA FÁBRICA DO TABACO.
POR AQUELA ÉPOCA, OS NOSSOS CAMARADAS DE ESCOLA, ERAM COMO FACILMENTE SE DEPREENDE, GENTE DAS MESMAS ORIGENS E EXTRACTO SOCIAL; TINHAMOS GRANDES AMIGOS ENTRE OS ALUNOS INTERNOS DA “MITRA” (O CARLITOS, A IDALINA RATO ARANHA E O ANTÓNIO DIAS DA COSTA, POR EXEMPLO); OUTROS COMO O ALBERTINO ANTÓNIO MOREIRA, O GUINEENSE RAÚL ANDRADE PRAZERES, ORLANDO PEREIRA MAIA, O FLORIVAL, O TORCATO, O NETO DO SAPATEIRO DA CALÇADA D. GASTÃO (CUJO NOME NÃO RECORDO), VIVENDO EM VÁRIAS ZONAS DA CIDADE DE LISBOA, FAZIAM IGUALMENTE PARTE DO NOSSO CICLO DE RELAÇÕES; DA “LINHA” LISBOA-AZAMBUJA, TINHAMOS O FERNANDO AMARAL DE ALMEIDA (GRANDE JOGADOR DE FUTEBOL), RUI CASALEIRO, ÁLVARO ABRANTES MARTINS, MANUEL CARLOS SÉNICA BAPTISTA, MANUEL LUÍS MARQUES TABELIÃO, JOÃO DA CONCEIÇÃO FERREIRA NETO, ANTÓNIO JOSÉ MARQUES CALÇADA, O JOSÉ MANUEL TRISTÃO E OUTROS QUE COMO NÓS VINHAM DE COMBÓIO DOS LADOS DE VILA FRANCA, ATÉ BRAÇO DE PRATA OU CHELAS, CONFORME OS CASOS.
A INESPERADA MORTE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA (OSCAR CARMONA), SERVIU PARA APROVEITARMOS O “FERIADO” DESSE DIA E IRMOS A PÉ ATÉ À BAIXA LISBOETA. PASSÁMOS PELO PALÁCIO FOZ, AOS RESTAURADORES, ONDE FIZEMOS MAIS UMA FAÇANHA PRÓPRIA DE JOVENS DA NOSSA IDADE, E DE GRANDE IRRESPONSABILIDADE POLÍTICA, QUE PODERIA TER DADO MAU RESULTADO – A SALA DIREITA DO RÉS-DE-CHÃO TINHA GRANDES MESAS CHEIAS DE PROPAGANDA DO S.N.I., E UM DE NÓS LEMBROU-SE QUE O MELHOR SERIA DEITARMOS TUDO AO CHÃO, O QUE FIZEMOS RAPIDAMENTE, E QUANDO OS CONTÍNUOS DE FARDA AZUL, DERAM POR ISSO, JÁ NOS FUGIAMOS AVENIDA DA LIBERDADE ACIMA.
MAS VAMOS AO IMPORTANTE DESTE ARTIGO, QUE TRATA DA FIGURA ÍMPAR DO PROFESSOR JOSÉ PEDRO MACHADO.
O PROFESSOR PEDRO MACHADO FOI NOSSO PROFESSOR DE PORTUGUÊS; ERA O TIPO DE PESSOA DE UMA HUMANIDADE A TODA A PROVA, QUE FÁCILMENTE GRANJEOU SIMPATIA ENTRE OS FILHOS DA “MALTA OPERÁRIA”; OUVIA OS NOSSOS QUEIXUMES E DAVA CONSELHOS QUE ERAM SEMPRE MUITO BEM ACOLHIDOS; E NÃO SE PENSE QUE FALAVA SÓ DE ASSUNTOS ESCOLARES. AS AULAS DO DR. PEDRO MACHADO, ERAM AUTÊNTICAS JANELAS ABERTAS PARA O MUNDO, NUMA ÉPOCA EM QUE O OBSCURANTISMO ERA PARTE IMPORTANTE DA VIDA DO COMUM DOS PORTUGUESES.
A UMA MEIA DÚZIA BEM ESCOLHIDA DE ALUNOS, NOS INTERVALOS DAS AULAS, FALAVA-NOS DA SITUAÇÃO POLÍTICA INTERNACIONAL E DAVA-NOS CONSELHOS BASTANTE ÚTEIS PARA A SITUAÇÃO QUE SE VIVIA NO MOMENTO. RECORDO QUE FALAVA IMENSO SOBRE O BRASIL (DIZIAM NA ESCOLA, QUE ERA CASADO COM UMA BRASILEIRA), E UM DIA FICOU MUITO ADMIRADO POR LHE TER FALADO DE UM DOS MEUS HERÓIS DA JUVENTUDE, LUÍS CARLOS PRESTES, O REVOLUCIONÁRIO BRASILEIRO QUE COMANDOU NOS ANOS TRINTA, UMA COLUNA REVOLUCIONÁRIA (COLUNA PRESTES) QUE FICOU CÉLEBRE, QUE PERCORREU GRANDE PARTE DO BRASIL, ESPALHANDO OS IDEAIS DA IGUALDADE; MAS MESMO ASSIM, O EXPERIENTE PROFESSOR, SORRIA, MAS NÃO “DESARMAVA”. NAQUELE TEMPO ATÉ AS PAREDES TINHAM OUVIDOS, ... E NÓS, AVISADOS EM CASA, TAMBÉM O SABIAMOS.
UM DIA, FOI PRECISO FAZER ALGO EM SOLIDARIEDADE PARA COM OS TRABALHADORES DE XABREGAS EM GREVE, NÃO ME RECORDO JÁ PORQUÊ. OS CARROS ELÉTRICOS PASSAVAM À PORTA DA ESCOLA, E UM DIA ALGUÉM TEVE A IDEIA REVOLUCIONÁRIA DE FAZER DESCARRILAR UM DOS CARROS, COMO ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA; COMO FAZÊ-LO, COUBE A UM DOS MAIS “EXPERIENTES” QUE DE CASA VEIO COM A “LIÇÃO ESTUDADA” – CADA UM TROUXE DE CASA UMA CAIXA DE FÓSFOROS QUE DEPOIS DE TIRADAS COM CUIDADO AS CABEÇAS (DOS FÓSFOROS), SERVIU PARA COM CUIDADO, ENCHER UMA LATA (GRANDE) DE POMADA VAZIA. A CAIXA TINHA QUE FICAR BEM CHEIA, DE MOLDE A QUE FOSSE DIFÍCIL FECHÁ-LA; ASSIM ACONTECEU. COLOU-SE UMA FITA DESIVA E O ARTEFACTO FICOU PRONTO. COLOCOU-SE A CAIXA SOBRE O CARRIL, E PARA DISFARÇAR, COBRIU-SE COM UM PAPEL DE JORNAL, COLOCANDO-SE OUTRAS FOLHAS ESPALHADAS POR PERTO, PARA DISFARÇAR, TORNAQNDO NORMAL O “CENÁRIO”. À PASSAGEM DO CARRO ELÉCTRICO, O ESTAMPIDO DA EXPLOSÃO DA CAIXA CHEIA DE CABEÇAS DE FÓSFOROS, FOI GRANDE, MAS O SALTO QUE O CARRO DEU PARA CIMA DO PASSEIO, JUNTO AO GRADEAMENTO DO ASILO MARIA PIA (FEMININO), FOI MAIOR. PASSADOS UNS MINUTOS JÁ A GNR ESTAVA NO LOCAL, MAS OS RESPONSÁVEIS PELA OPERAÇÃO HAVIAM SAÍDO ESTRATEGICAMENTE PELO ASILO MARIA PIA (MASCULINO), COM O APOIO CONIVENTE DE ALGUNS ALUNOS DAQUELE ESTABELECIMENTO.
AOS SÁBADOS, A FREQUÊNCIA AOS EXERCÍCIOS DA MOCIDADE PORTUGUESA, ERA OUTRA DAS GRANDES PREOCUPAÇÕES DA “MALTA”, QUE POR INDICAÇÃO PATERNAL DEVIA EVITAR TAIS ACTIVIDADES. AS DESCULPAS, AS FALTAS JUSTIFICADAS, ERAM A NOSSA “ARMA” QUE TINHA QUE SER UTILIZADA COM REGRA, PARA EVITAR DESCONFIANÇAS … ATÉ QUE UM DIA, DEPOIS DE TANTO TERMOS JUSTIFICADO, NOS METEM NA MÃO, UMA FARDA E UMA TENDA PARA NO FIM DE SEMANA SEGUINTE IRMOS ACAMPAR, CREIO QUE PARA OS LADOS DE SINTRA.
FORAM TERRÍVEIS OS DIAS QUE PASSÁMOS ATÉ À DATA MARCADA PARA O PROGRAMADO “ACAMPAMENTO”. PENSÁMOS MUITO, TANTO QUE NO DIA APRASADO, ACABAMOS ACAMPADOS NA “QUINTA DO BRITO” AO BEATO, POIS NÃO IRIAMOS APARECER EM CASA COM AQUELE “APARATO” TODO. SE ERA PRECISO ACAMPAR, NÓS ACAMPÁMOS, SÓ QUE NO SÍTIO EXTRA PROGRAMA. NO DIA DA DEVOLUÇÃO DO “MATERIAL” NA “AFONSO DOMINGUES”, DESCULPAMO-NOS AO DIRIGENTE (ENCARREGUE DE RECEBER O MATERIAL), COM O ATRASO NA CHEGADA AO LOCAL DE EMBARQUE (CAMIÕES DA LEGIÃO À PORTA DA ESCOLA), DESCULPA QUE, COM MUITA ADMIRAÇÃO DA NOSSA PARTE, FOI ACEITE SEM COMENTÁRIOS.
SEMPRE QUE POSSÍVEL, DEPOIS DAS AULAS, FAZIAMOS A DISTRIBUIÇÃO CLANDESTINA DE DOCUMENTOS DO MUD-JUVENIL, JUNTO DOS OPERÁRIOS DA TABAQUEIRA, FÁBRICA DE TECIDOS, ALVES RIBEIRO, FÁBRICA DA PÓLVORA (CHELAS), MANUTENÇÃO MILITAR, FÁBRICA DOS FÓSFOROS, ETC.
CERTO DIA O PROFESSOR PEDRO MACHADO NO DECORRER DE UMA AULA, DESCOBRIU UM DOCUMENTO DO MUD-JUVENIL, DEIXADO POR NÓS INADVERTIDAMENTE DENTRO DE UM DOS CADERNOS; SEM ALARIDOS, DISSE-ME PARA FICAR NA SALA DE AULA, NO INTERVALO SEGUINTE. FICÁMOS EM PÂNICO, MAS NO FUNDO COM ALGUMA ESPERANÇA DE CONSEGUIRMOS ULTRAPASSAR O INCIDENTE. CHAGADO O INTERVALO, TIVEMOS UMA CONVERSA DE "HOMEM PARA HOMEM" ONDE TUDO SE ESCLARECEU, TENDO FICADO COM A GARANTIA DE QUE ESTAVA EM PRESENÇA DE UM SENHOR PROFESSOR QUE NOS RECOMENDAVA CUIDADO, MAS QUE ENTENDIA OS NOSSOS PROBLEMAS SOCIAIS E ACIMA DE TUDO AS NOSSAS OPÇÕES POLÍTICAS.
O PROFESSOR JOSÉ PEDRO MACHADO FICA PARA SEMPRE, ESTOU CERTO DISSO, NO CORAÇÃO DOS FILHOS DO POVO, QUE NÃO DISPONDO DE OUTROS MEIOS ECONÓMICOS, FAZIAM DA "AFONSO DOMINGUES" A SUA "UNIVERSIDADE".
OUTROS PROFESSORES FICARAM IGUALMENTE NA NOSSA MEMÓRIA, COMO GENTE COMPETENTE QUE ANDAVA ALI PARA ENSINAR, QUANTAS VEZES COM ENORMES SACRIFÍCIOS, A COMEÇAR PELAS DEFICIENTES INSTALAÇÕES ESCOLARES, PASSANDO PELA IRREGULARIDADES DA FREQUÊNCIA ÀS AULAS DE ALUNOS QUE NÃO CONSEGUIAM DISFARÇAR AS DIFICULDADES SOCIAIS EM QUE VIVIAM.
"MESTRE" ROMÃO, POOL DA COSTA, HERCULANO NEVES, BELARMINO BARATA, LEITE RIBEIRO, ANTONINO HENRIQUES, MESQUITA SPRANGER, "MESTRE" DOMINGUES, ELSA CANDEIAS DE ABREU, E OUTROS, A QUE JUNTAMOS OS NOMES DAS SAUDOSAS SENHORAS, NAZARET E MARIA, COMPETENTÍSSIMAS CONTÍNUAS, QUE NOS ATURAVAM AS TRAQUINICES, QUANDO TOMAVAMOS DE “ASSALTO”, OS VELHOS CORREDORES DA ESCOLA.
CÁ FORA, O VENDEDOR DE "TORRÃO DE ALICANTE" CUJO NOME JÁ NÃO ME RECORDO, MAS QUE ENTRA IGUALMENTE NO MEU UNIVERSO DE GRATAS RECORDAÇÕES.
POR ESSA ÉPOCA, O DIRECTOR DA ESCOLA ERA O ENGº JOÃO FURTADO HENRIQUES, HOMEM QUE TODOS RESPEITAVAM.
QUANDO HOJE CONSTATO A PASSAGEM PELA “UNIVERSIDADE DE XABREGAS” DE NOMES ILUSTRES COMO OS DE BENTO GONÇALVES, JOSÉ SARAMAGO, DIAS LOURENÇO, DOMINGOS ABRANTES, MANUEL GUEDES E TANTOS OUTROS, RECONHEÇO QUANTO IMPORTANTE FOI O PAPEL DAQUELA ESCOLA, NA FORMAÇÃO DE GENTE DE LUTA, NAS MAIS VARIADAS ÁREAS DA SOCIEDADE PORTUGUESA.
SAUDAÇÃO PERMANENTE DO SEU ANTIGO ALUNO, HENRIQUE MOTA
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